Como em quase todas as suas relações econômicas, o Brasil, no disputado mercado do futebol, é um fornecedor de commodities. Produzimos craques ou bons jogadores aos borbotões. Eles brotam País afora como cana e soja. E até o caminho do estrelato – ou da desilusão – são tratados assim, feito commodities, como frangos desossados ou partes de um belo corte bovino prontos a serem exportados.
Os craques do futuro são instalados em alojamentos mambembes e sem higiene, com alimentação de péssima qualidade. São afastados da família – às vezes até sem a autorização oficial – e da escola. Sobram denúncias de abuso sexual.
Nos grandes clubes existe a preocupação de matricular o jovem jogador em uma escola. Mas nem sempre há um acompanhamento adequado. Com o vai-e-vem de time e de cidade, são raros os que concluem os estudos. Nos clubes com menor estrutura, a situação é pior. Os jovens são submetidos a cargas excessivas de treinamento e a uma enorme pressão psicológica.
A ausência do convívio familiar, a falta de estudo, a pressão e o risco de abuso sexual levaram o Ministério Público do Trabalho a fiscalizar a situação dos jovens atletas. Em São Paulo foram realizadas vistorias em vários clubes. Há um ano, um grupo de trabalho foi formado por procuradores de vários estados para analisar o problema em todo o País.
A intenção é regulamentar a atividade para as crianças e adolescentes. “Estamos preocupados principalmente com a situação dos menores de 14 anos. Muitos clubes não têm a infra-estrutura mínima para receber esses jovens e, muitas vezes, nem a autorização oficial dos pais”, explica a procuradora Claudia Lovato Franco, do Ministério Público do Trabalho de São Paulo.
Jovens jogadores fazem graves acusações. “Sempre ouvi falar de casos de pedofilia nas categorias de base de grandes times”, afirma R.M., 20 anos, ex-Corinthians e Portuguesa e hoje sem clube. “Alojamento sem higiene é coisa normal. Se a Vigilância Sanitária aparecer, ela fecha dezenas de clubes. Na Portuguesa Londrinense (PR), um amigo meu estava dormindo e um rato caiu em cima dele”, conta R. A.P., 19 anos, ex-Santos e também sem clube no momento, relata ter passado duas semanas na mesma Portuguesa Londrinense à base de arroz e pé de galinha, todos os dias. “À noite, a gente dormia no chão. E tinha de ficar com a bolsa e as roupas entre as pernas para não ser roubado”, afirma. Segundo ele, atletas menores de idade da cidade saíam diariamente com homossexuais e recebiam 200 reais por programa.
CartaCapital visitou o alojamento da Portuguesa Londrinense, rebaixada neste ano para a Segunda Divisão do Campeonato Paranaense. Lá, os jogadores dormem em camas e beliches capengas com colchões velhos e sujos. Os quartos não estavam limpos e havia um forte cheiro de mofo e suor. “Aqui não tem nenhuma mordomia, nem quartos bonitos. Mas é limpo, sim. Uma vez por semana tem um cara meio ignorante aqui que bota a molecada para cuidar dos quartos e do corredor”, diz Amarildo Martins, 45 anos, dono de um autopeças, presidente da Portuguesa e também do Cambé, da cidade vizinha de mesmo nome.
Ex-atleta do Operário de Campo Grande, Martins se define como um jogador razoável. “E a vida é difícil para quem é razoável”, sentencia. Ele nega que seus jogadores só comam pé de frango. “Isso é uma coisa inventada por um jornalista da tevê de Londrina. Aí, passaram a falar. A base da alimentação é peixe e macarrão, que tem carboidrato para os atletas. Nem eu tenho macarrão na minha casa todo dia. Podem ter sobrado uns dois pezinhos de frango de vez em quando. Mas quem falou isso é o maior mentiroso da face da terra”, rebate.
O presidente admitiu que homossexuais costumam rondar o alojamento do clube. “Os gays sabem que aqui está cheio de garotos e ficam rondando. Mas o que eu posso fazer? Eu falo com os meninos, procuro conversar. Como sou evangélico (da Igreja do Evangelho Quadrangular), levo a palavra de Deus para eles. Sempre trago alguém aqui, de várias igrejas, para fazer a pregação”, afirma.
Recebi vários telefonemas de amigos de todo Brasil e infelizmente e mais um fato que mancha o futebol de Londrina.
lamentável trecho do site CARTA CAPITAL.COM.BR
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