Eu me lembro dos tempos em que os homens tinham por dever de honra o cumprimento da palavra empenhada. Não era preciso assinar; falavam e cumpriam. Hoje muitos não cumprem sequer o que assinam e o que dizer então daquilo que apenas falam.
Lembro da época em que era feio mentir. Crianças que mentiam eram castigadas pelos pais, homens que mentiam eram execrados pela comunidade em que viviam. Hoje a gente vê tanta gente mentindo, no maior descaramento, com tranqüilidade, como se ninguém mais tivesse compromisso com a verdade.
Nos tempos idos os alunos tinham um grande respeito pelos professores e os tratavam com educação e carinho. Hoje temos notícias de alunos que batem em seus mestres, que vão armados às escolas e a eles desrespeitam, ameaçam e agridem.
Num passado não tão distante havia mais dignidade, mais respeito recíproco, mais lhaneza no trato entre as pessoas. Lembro que nas emissoras de Rádio era inadmissível um locutor usar palavras chulas. Palavrões, nem pensar.
Agora a gente ouve de tudo, até palavras do mais baixo calão, sem a mínima consideração às famílias desses lares invadidos pelas ondas do Rádio e da Televisão.
Recordo uma fase em que ladrão tinha vergonha de ser ladrão.
Quando um ladrão de galinhas era apanhado davam-lhe uma surra e nem precisava chamar a polícia. Assaltos a gente só via nos filmes e tiroteios só em faroeste, tudo fabricado em Hollywood. Hoje os ladrões se vangloriam da sua "profissão". Os assaltos são freqüentes e os tiroteios acontecem a qualquer hora e em qualquer lugar. Apareceu a bala perdida que, curiosamente, sempre acha pessoas inocentes.
Em outros tempos, a polícia era respeitada. Os policiais eram defensores da lei e da ordem e protegiam a população. Hoje surgiram os policiais corruptos, quadrilheiros, bandidos, que envergonham os bons que ainda continuam cumprindo honradamente os seus deveres e expondo suas vidas em defesa dos cidadãos.
Em dias distantes a gente confiava nos legisladores e eles eram homens cultos, parlamentares preparados que faziam leis com sabedoria, independência e honradez.
Agora se fala que a nossa legislatura é das piores que já tivemos, com capachos, vendilhões, homens sem decoro que deslustram os grandes tribunos do passado e fazem corar de vergonha os seus pares que ainda continuam mantendo a honra e a altivez.
Algum tempo atrás ainda se acreditava nos que exerciam cargos de mando, esperando-se deles aquela intocável linha de conduta que dignifica os membros da administração pública, inspirando confiança e respeito. Agora temos vergonha de alguns ineptos guindados ao poder, homens pequenos em cargos tão grandes. Quantos haverá que amam verdadeiramente este País e possuem a envergadura de autênticos estadistas?
Outrora, sempre restava uma esperança. Era o poder judiciário, último baluarte que nos livrava das injustiças, que nos protegia das perseguições, que nos assegurava a plenitude dos direitos de cidadãos. Hoje temos notícia de juízes e ministros que venderam sentenças, lançando na lama a sua honradez e na desgraça a nossa confiança na justiça, causando decepção e revolta entre os dignos membros do judiciário.
Mais recordações e comparações poderiam ser feitas, pois muitas coisas mudaram, mas paro por aqui. O que aconteceu conosco? Que fizeram deste povo que era tão bom e vivia tão bem apesar de não ter o progresso de agora? O que ocasionou essa multiplicação de incompetentes e salafrários? Por que os homens sérios vivem acuados, numa deplorável insegurança, temendo por suas próprias vidas?
É revoltante ver a inércia dos que têm por dever a defesa da coletividade, dos que têm por obrigação dar exemplos de conduta ilibada. É triste supor que os bons escasseiam e os maus proliferam. Quem nos devolverá a tranqüilidade?
Até quando teremos paciência para viver assim?
Ubiratan Lustosa
(site www.ulustosa.com)
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